domingo, 27 de abril de 2025

17. O VIDENTE

 



O VIDENTE


Como vou morrer?, pergunta à bruxa.

A bruxa lê o destino do homem em dígitos de plástico retirados de algum teclado do início do século XXI. O primeiro lance, que é o mais aberto, indica as palavras “vim” e “rua”.

- Ele diz que não é coisa pessoal. Tua morte vai vim da rua. O que for não vai ter a ver com a tua família.

O segundo lance revela dois termos em inglês: “rec” e “few”. O que é isso, pergunta o homem.

- É “gravação” e... “menos”. Não, menos não, “algum”. Em inglês, “few” é algum.

A bruxa acende novamente a ponta de haxixe. Dá uma baforada. Prende. Solta.

- Alguma gravação. É isso o que diz.

- Humm. Entendi. O que mais?

A bruxa recolhe novamente os dígitos, chacoalha, fecha os olhos e atira sobre o tabuleiro de vime.

- E, Q, U, C... “que”... céu”.

- Que céu?

- Isso.

- Humm.

- Diz que tem a ver com as ideia. O que vai por cima da cabeça. É coisa de pensamento. Tu vai morrer por conta de alguma gravação que tu publicar. É isso o que voz do teclado me diz. A bruxa começou a recolher o material de trabalho.

- Tá certo. Quanto é?

- Três. Um por lance.

- Em crédito ou moeda.

- Moeda. Só trabalho com dinheiro físico.

- Toma. Pode ficar com o troco.

- Deus lhe abençoe.

O homem não responde. Levanta-se do banco dentro da barraca improvisada em pleno calçadão central de Nova Desterro. Faz frio e parece que vai chover novamente. Outra tempestade. Um café. Entrou. Duas mulheres conversam. A mais velha tosse muito. Ao avistarem o homem ambas recolocam suas máscaras Sílex P-98.

- Bom dia, o que vai ser?

- O que tem?

- Álcool e água de torneira.

- Álcool, por favor.

- Pra consumir aqui ou pra levar.

- Consumir aqui.

- Pra consumir álcool aqui dentro é mais caro.

- Me dá água, então.

A mulher olha-o com desprezo. Bebe a água salobra.

Começa a chover novamente. Ruma até ao calçadão. Andarilhos e mercadores disputam espaços sobre as marquises. Faz frio. A chuva e o vento cortam o seu rosto. “Previsão de futuro”, lê num neon. A placa pende de uma barraca improvisada. Entra.

Como vou morrer?, perguntou ao feiticeiro.

O feiticeiro leu o destino do homem em dígitos de plástico retirados de algum teclado do início do século. O primeiro lance, que é o mais aberto, indica as palavras “vim” e “rua”.

- Ele diz que não é coisa pessoal. Tua morte vai vim da rua. O que for não vai ter a ver com a tua casa ou família. O segundo lance revela dois termos em inglês: “rec” e “few”.

- O que é isso, pergunta o homem.

- É “gravação” e... é... “menos”. Não, menos não. “Algum”. Em inglês, “few” é algum”.

O feiticeiro acendeu novamente a ponta de haxixe. Deu uma baforada. Prendeu. Soltou.

- Alguma gravação. É isso o que diz.

- Humm. Entendi. O que mais?

O feiticeiro recolheu os dígitos, chacoalhou, fechou os olhos e atirou sobre o tabuleiro de vime.- E, Q, U, C... “Que céu”.

- Que céu? - Isso.

- Humm. - Diz que tem a ver com as ideia. O que vai por cima da cabeça. É coisa de ideia. Tu vai morrer por conta de alguma gravação que tu publicar. É isso o que a voz do teclado me diz.

O feiticeiro começou a recolher o material de trabalho.

- Tá certo. Quanto é?

- Três. Um por lance.

- Em crédito ou moeda.

- Moeda. Só trabalho com dinheiro físico.

- Toma. Pode ficar com o troco.

- Deus lhe abençoe.

O homem não respondeu. Levantou-se do banco dentro da barraca improvisada em pleno calçadão central de Nova Desterro.

Fazia frio e parecia que voltaria a chover. Outra tempestade. Avistou um café. Entrou. Duas mulheres conversavam. A mais velha tossia muito. Ao ver o homem entrar ambas recolocaram suas máscaras AIr-9.6

- Bom dia, o que vai ser?

- O que tem?

- Álcool e água da torneira.

- Álcool, por favor.

- Pra consumir aqui ou pra levar.

- Consumir aqui. - Pra consumir aqui é mais caro.

– Tá bom, me dá assim mesmo. –

A mulher olhou-o com simpatia. Bebeu o álcool. Começou a chover. Rumou até o calçadão. Andarilhos, mercadores disputavam espaços sobre as marquises. Fazia frio. A chuva e o vento cortavam o seu rosto. “Leitura de Sorte e Previsões”, leu numa placa pintada a mão. A placa pendia de uma barraca improvisada.

Entrará. Como vou morrer?, perguntou à bruxa. O feiticeiro lê destino do homem em dígitos de plástico retirados de algum teclado do século XX. O primeiro lance, que é o mais aberto, indicaria as palavras “vim” e “rua”. O segundo lance revelava dois termos em inglês: “rec” e “few”; O médium acendeu novamente a ponta de haxixe. Deu uma baforada. Prendeu. Soltou. A bruxa recolhia novamente os dígitos, chacoalhava, fechava os olhos e atirava sobre o tabuleiro de vime. - E, Q, U, C... Tu vai morrer por conta de alguma gravação que tu publicar. É isso o que a voz me diz. O feiticeiro começou a recolher o material de trabalho. - O homem respondeu à benção. Levantou-se do banco dentro da barraca improvisada em pleno calçadão central de Florianópolis. Faz frio e parece que vai chover. Outra tempestade. Um café. Entrou. Duas mulheres conversavam. A mais velha tossia muito. Ao ver o homem entrar ambas recolocam suas máscaras. A mulher olhou-o com desejo. Bebeu água salobra com açúcar. Começou a chover. Rumou até o calçadão. Andarilhos, mercadores. Faz frio. A chuva e o vento cortam o seu rosto; “Leitura de futuro”.. A placa pendia de uma barraca improvisada. Entrou.

- Como vou morrer?, pergunta.

O vidente levanta sem dizer nada. Procura sua mochila. Abre o bolso mais externo. Encontra algo.

- Tu me ouviu? Quero uma consulta.

O outro encontra sua pistola. O homem não tem tempo de compreender o que estava acontecendo. Duas balas acertam sua a cabeça. Três ricochetam no calçamento e uma crava a perna de um transeunte.

O vidente senta-se e aguarda as viaturas de vigilância e os dois soldados que, ele sabia, quebrar-lhe-iam dois dentes: um molar e o canino.

A polícia não admite assassinatos em áreas de grande circulação pública.


⌘ ⌘ ⌘

Nenhum comentário:

Postar um comentário

ANACHRONISTIC ART MANIFESTO/MANIFIESTO DEL ARTE ANACRÓNICO/MANIFESTE DE L'ART ANACHRONIQUE

   ANACHRONISTIC ART  MANIFESTO III Our perception of time—and historical time itself—is being altered, and this is a political act w...