PARTE II:
MALWARE MORAL
8.
O ABUTRE CORTÊS
O Abutre, muito cortês, de todos era amigo e a todos agradava com suas histórias. Não havia criatura, nos campos ou na floresta, que não o conhecesse e não o desejasse como camarada.
Sempre muitíssimo generoso e prestativo, o Abutre dedicava especial atenção aos seres mais frágeis, sendo ele companhia constante dos velhos moribundos e dos filhotes ainda incautos dos perigos da floresta.
Certo dia, estava ele empoleirado num ramo seco de árvore, cuidando de entreter a um velho e gordo zebú que ruminava calmo, distraído com a prosa agradável do risonho Abutre. Ambos conversavam assim, tranquilos, quando de súbito saltou de entre os arbustos a Onça. E cravando os dentes e garras nas carnes do velho boi, destrinchou-o e devorou-o ali mesmo, deixando para trás, depois de saciada, a carniça em pedaços.
O Abutre que a tudo observava, depois de ver distante a fera, só então desceu da árvore, e ao pousar direto nos restos sangrentos do infeliz zebu, exclamou satisfeito: "Ah, mas que fartas recompensas nos dão as amizades certas!" - e mergulhando a cabeça nas entranhas ainda meio quentes do companheiro abatido, fartou-se.
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