sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

O VIDENTE




- Luiz Souza. "Vista de Nova Desterro, 2099". 2021.


          Como vou morrer, pergunta à bruxa.

A bruxa lê o destino do homem em dígitos de plástico retirados de algum teclado do iníc2io do século XXI. O primeiro lance, que é o mais aberto, indica as palavras “vim” e “rua”.  

- Ele diz que não é coisa pessoal. Tua morte vai vim da rua. O que for não vai ter a ver com a tua família. 

O segundo lance revela dois termos em inglês: “rec” e “few”. O que é isso, pergunta o homem. 

- É “gravação” e... “menos”. Não, menos não, “algum”. Em inglês, “few” é algum. 

A bruxa acende novamente a ponta de haxixe. Dá uma baforada. Prende. Solta. 

- Alguma gravação. É isso o que diz. 

- Humm. Entendi. O que mais? 

A bruxa recolhe novamente os dígitos, chacoalha, fecha os olhos e atira sobre o tabuleiro de vime. 

- E, Q, U, C... “que”... céu”. 

- Que céu? 

- Isso. 

- Humm. 

- Diz que tem a ver com as ideia. O que vai por cima da cabeça. É coisa de pensamento. Tu vai morrer por conta de alguma gravação que tu publicar. É isso o que voz do teclado me diz. A bruxa começou a recolher o material de trabalho. 

- Tá certo. Quanto é? 

- Três. Um por lance. 

- Em crédito ou moeda. 

- Moeda. Só trabalho com dinheiro físico. 

- Toma. Pode ficar com o troco. 

- Deus lhe abençoe. 

O homem não responde. Levanta-se do banco dentro da barraca improvisada em pleno calçadão central de Nova Desterro. Faz frio e parece que vai chover novamente. Outra tempestade. Um café. Entrou. Duas mulheres conversam. A mais velha tosse muito. Ao avistarem o homem ambas recolocam suas máscaras Sílex P-98. 

- Bom dia, o que vai ser? 

- O que tem? 

- Álcool e água de torneira. 

- Álcool, por favor. 

- Pra consumir aqui ou pra levar. 

- Consumir aqui. 

- Pra consumir álcool aqui dentro é mais caro. 

- Me dá água, então. 

A mulher olha-o com desprezo. Bebe a água salobra. 

Começa a chover novamente. Ruma até ao calçadão. Andarilhos e mercadores disputam espaços sobre as marquises. Faz frio. A chuva e o vento cortam o seu rosto. “Previsão de futuro”, lê num neon. A placa pende de uma barraca improvisada. Entra. 

Como vou morrer?, perguntou ao feiticeiro. 

O feiticeiro leu o destino do homem em dígitos de plástico retirados de algum teclado do início do século. O primeiro lance, que é o mais aberto, indica as palavras “vim” e “rua”. 

- Ele diz que não é coisa pessoal. Tua morte vai vim da rua. O que for não vai ter a ver com a tua casa ou família. O segundo lance revela dois termos em inglês: “rec” e “few”. 

- O que é isso, pergunta o homem. 

- É “gravação” e... é... “menos”. Não, menos não. “Algum”. Em inglês, “few” é algum”. 

O feiticeiro acendeu novamente a ponta de haxixe. Deu uma baforada. Prendeu. Soltou. 

- Alguma gravação. É isso o que diz. 

- Humm. Entendi. O que mais? 

O feiticeiro recolheu os dígitos, chacoalhou, fechou os olhos e atirou sobre o tabuleiro de vime.- E, Q, U, C... “Que céu”. 

- Que céu? - Isso. 

- Humm. - Diz que tem a ver com as ideia. O que vai por cima da cabeça. É coisa de ideia. Tu vai morrer por conta de alguma gravação que tu publicar. É isso o que a voz do teclado me diz. 

O feiticeiro começou a recolher o material de trabalho. 

- Tá certo. Quanto é? 

- Três. Um por lance. 

- Em crédito ou moeda. 

- Moeda. Só trabalho com dinheiro físico. 

- Toma. Pode ficar com o troco. 

- Deus lhe abençoe. 

O homem não respondeu. Levantou-se do banco dentro da barraca improvisada em pleno calçadão central de Nova Desterro. 

Fazia frio e parecia que voltaria a chover. Outra tempestade. Avistou um café. Entrou. Duas mulheres conversavam. A mais velha tossia muito. Ao ver o homem entrar ambas recolocaram suas máscaras AIr-9.6 

- Bom dia, o que vai ser? 

- O que tem? 

- Álcool e água da torneira. 

- Álcool, por favor.

- Pra consumir aqui ou pra levar. 

- Consumir  aqui. - Pra consumir aqui é mais caro. 

– Tá bom, me dá assim mesmo. –

 A mulher olhou-o com simpatia. Bebeu o álcool. Começou a chover. Rumou até o calçadão. Andarilhos, mercadores disputavam espaços sobre as marquises. Fazia frio. A chuva e o vento cortavam o seu rosto. “Leitura de Sorte e Previsões”, leu numa placa pintada a mão. A placa pendia de uma barraca improvisada. 

Entrará. Como vou morrer?, perguntou à bruxa. O feiticeiro lê destino do homem em dígitos de plástico retirados de algum teclado do século XX. O primeiro lance, que é o mais aberto, indicaria as palavras “vim” e “rua”. O segundo lance revelava dois termos em inglês: “rec” e “few”; O médium acendeu novamente a ponta de haxixe. Deu uma baforada. Prendeu. Soltou. A bruxa recolhia novamente os dígitos, chacoalhava, fechava os olhos e atirava sobre o tabuleiro de vime. - E, Q, U, C... Tu vai morrer por conta de alguma gravação que tu publicar. É isso o que a voz me diz. O feiticeiro começou a recolher o material de trabalho. - O homem respondeu à benção. Levantou-se do banco dentro da barraca improvisada em pleno calçadão central de Florianópolis. Faz frio e parece que vai chover. Outra tempestade. Um café. Entrou. Duas mulheres conversavam. A mais velha tossia muito. Ao ver o homem entrar ambas recolocam suas máscaras. A mulher olhou-o com desejo. Bebeu água salobra com açúcar. Começou a chover. Rumou até o calçadão. Andarilhos, mercadores. Faz frio. A chuva e o vento cortam o seu rosto; “Leitura de futuro”.. A placa pendia de uma barraca improvisada. Entrou. 

- Como vou morrer?,  pergunta.

O vidente levanta sem dizer nada. Procura sua mochila. Abre o bolso mais externo. Encontra algo. 

- Tu me ouviu? Quero uma consulta. 

O outro encontra sua pistola. O homem não tem tempo de compreender o que estava acontecendo. Duas balas acertam sua a cabeça. Três ricochetam no calçamento e uma crava a perna de um transeunte. 

O vidente senta-se e aguarda as viaturas de vigilância e os dois soldados que, ele sabia, quebrar-lhe-iam dois dentes: um molar e o canino.

A polícia não admite assassinatos em áreas de grande circulação pública.

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